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Cosmopolitan Korea mancha sua reputação com conceito ‘Molka’

A Coreia do Sul vive em um constante combate contra um dos piores gêneros de pornografia existente: o de câmeras escondidas. O gênero, que é chamado no país por ‘molka’, acontece quando (normalmente) um homem fotografa mulheres com câmeras espiãs. A situação é tão agravante que, numa tentativa de mitigar a problemática, os celulares vendidos em território sul coreano batem fotos com os sons de câmera ligados; em outras palavras, para evitar que alguém tire uma foto sua escondido, todo aparelho celular faz o famoso ‘click’ na hora de uma fotografia.

O surgimento do molka é dado a criminalização da pornografia na Coreia do Sul, fazendo com que indivíduos busquem outros típos de mídia que se assimilem ao ‘pornô’, como é foi explicado por Park Soo-hyun, diretora da ONG Violência Sexual Digital (DSO). O país chegou a ter petições com mais 200 mil assinaturas exigindo uma maior pena para crimes sexuais desse caráter, assim como protestos com adesão feminina de +20 mil protestantes.

Somente em 2017 foram mais de 5400 crimes envolvendo ‘molka’, e é por isso que qualquer campanha artística que seja reminiscente desse tipo de conteúdo é recebida com firme oposição. No mundo idol houveram situações em que o público contestou a filmografia de determinados clipes e as letras de determinadas músicas, contudo, muito embora o problema seja de nível nacional e recebido com fúria pelo público geral, a famosa revista Cosmopolitan Korea cometeu um deslize grave.

Em 2018 as mulheres foram para as ruas solicitar seus direitos diante da problemática que só crescia. Cartazes com os dizeres ‘minha vida não é sua pornografia’ se tornaram frequentes durante o movimento.

Reprodução: Getty Images

Em uma sessão de fotos para mostrar sapatos tendência para o inverno, a revista publicou 4 fotos com a legenda:

“Isso é algo que estou mostrando a você em segredo. Quatro tendências de sapatos de inverno!”

As imagens mostram corpos femininos dando ênfase em suas pernas, o que seria até então normal para fotos de sapatos. O problema está no conteúdo das imagens, que mostra uma pessoa dentro de um box de banheiro e abaixava sua meia calça, por exemplo. Em outro caso, uma modelo foi fotografada enquanto subia escadas e suas roupas íntimas ficam praticamente visíveis.

TW/GATILHO: O conteúdo das fotos pode ser desconfortável.

Tendo recebido a fúria dos internautas, Cosmopolitan Korea publicou um primeiro pedido de desculpas na esperança de acalmar os nervos do público. Este foi o conteúdo do pedido de desculpas, na íntegra:

Curvamos nossas cabeças profundamente em desculpas a todos aqueles que podem ter sentido desconforto com o post anterior. Admitimos que não consideramos cuidadosamente um assunto delicado em nossa sociedade e estamos refletindo sinceramente sobre esse erro. Prometemos ser mais cuidadosos e conscientes na produção de nosso conteúdo a partir de agora, para que tal erro não ocorra novamente. Mais uma vez, pedimos sinceras desculpas.

Uma dica para você, leitor, é que não se pede desculpas de forma tão desleixada. O público ficou ainda mais furioso com o posicionamento e dois pontos principais foram destacados. Primeiro, a situação do Molka não é somente um ‘assunto sensível’, como o tópico de pet shops, que ergue debates calorosos na Coreia do Sul; segundo, o pedido ser direcionado ‘para todos que podem ter se sentido desconfortáveis’, se abstendo da culpa. Com o público geral ainda enfurecido, Cosmopolitan precisou lançar uma segunda retratação:

Gostaríamos de expressar nossas mais profundas desculpas por causar mais preocupações aos leitores com uma declaração que falhou em transmitir nosso total pesar pelo erro cometido em uma postagem anterior com uma determinada sessão de fotos.

‘Nós da Cosmopolitan’ admitimos que planejamos, dirigimos e publicamos uma sessão de fotos que lembrava crimes ilegais com câmeras escondidas, crimes que continuam a ameaçar a segurança e o bem-estar das mulheres em todos os lugares; estivemos engajados nesse processo do início ao fim, e por isso expressamos constrangimento sem fim, profundo arrependimento e irresponsabilidade imensurável.

Como uma revista que se orgulha de apoiar os avanços da carreira feminina, a positividade do corpo e a confiança e independência femininas, sentimos imensa vergonha e arrependimento e estamos realmente refletindo sobre a gravidade desse erro irreparável.

Vamos suportar toda e qualquer crítica e repreensão até os ossos. Para garantir que não cometeremos esse erro descuidado novamente, assumiremos uma postura severa e séria em todas as etapas do planejamento, direção e publicação do conteúdo.

Mais uma vez, como uma revista para mulheres nos dias de hoje, quando estamos constantemente conversando com mulheres que vivem nesta época, inclinamos nossas cabeças humildemente por arrependimento e pedimos perdão.

É realmente lamentável que um veículo de mídia tão popular tenha produzido algo desse porte, afinal, esse tipo de trabalho não passa somente por uma ou duas pessoas. Existem os idealizadores, fotógrafos, ceos, diretores, modelos, figurinistas, designers e tantos profissionais que estão envolvidos que é difícil argumentar que foi um erro qualquer. A marca de moda Balenciaga está vivenciando um blacklash similar após internautas encontrarem diversas insinuações de sexualização e pornografia infantil em seus trabalhos recentes.

Se espera que com o avanço da internet esse tipo de situação aconteça com menor frequencia, mas é lamentável que a diminuição de casos só ocorra pelo medo das grandes empresas da fúria dos internautas, e não por consciência própria de que marcas tão grandes possuem um poder de influência gigantesco e, muitas vezes, destrutivo.

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