Dentro da grande máquina que chamamos k-pop, existem alguns grupos que se destacam ao fugir do lugar comum ao vender sua música, ou até mesmo em suas trocas de conceito. Em uma indústria muito saturada, é sempre necessário que os ídolos musicais se reinventem e explorem ao máximo sua potencialidade, manifestando uma nova roupagem em seus trabalhos artísticos. No ensaio a seguir, serão expostos algumas equipes que se redescobriram com maestria enquanto criadores de conteúdo e canções.
APRIL
O girlgroup April (DSP Media), fez seu debut em agosto de 2015 com ‘Dream Candy’, música que apresentava a juventude e fofura das integrantes, possuindo vocais adocicados e movimentos leves na coreografia. Nos lançamentos seguintes, após algumas mudanças de formação, as meninas apostaram em faixas que remetiam a contos de fada, com sua estética resplendorosa e abusando do white aegyo muito bem executado, que rapidamente virou um elemento forte na história do grupo.
Em singles como ‘April story’ e ‘The blue bird’, o grupo recebe destaque pelos instrumentais belíssimos que esbanjava elementos da música clássica e acentuava a beleza e atuação das integrantes.
Em suas faixas de trabalho mais recentes, o sexteto fez sua ascensão em conceito retrô (Oh my mistake) e, embarcou no girl crush futurista de ‘LALALILALA’, adquirindo um novo formato e, entregando seu álbum mais sólido até o presente momento: ‘Da Capo’. Antes disso, o April já havia se afastado levemente do conceito fofo em ‘Mayday’, verdadeiro divisor de águas da equipe.
Em seu trabalho mais recente, o April apresenta visuais e música impecável em ‘LALALILALA’, que expõe o lado elegante e ousado do grupo.
VAV
Ainda na linha de 2015, temos VAV (Ateam) que, possuía erros técnicos em sua música em seu período rookie, facilmente perceptíveis (mixagem e finalização das faixas, etc). Após sofrer uma completa reformulação em 2017, o grupo recebeu novos membros e, um orçamento mais extenso para realizar seus lançamentos e divulgações, resultando em uma crescente em sua qualidade estética e musical, assim como em sua popularidade.
VAV chamou atenção em seus primeiros comeback’s pós-hiatus, pela coesão da faixa, considerando lançamentos anteriores. Pouco tempo depois, o grupo buscou inovar sua discografia, apostando em ritmos latinos e tropicais em ‘Señorita‘ e ‘Give me more‘. Com sua fanbase cada vez mais consistente fora da Ásia, o septeto possui um apelo internacional maior, viajando o mundo em turnê mundial pelo menos uma vez ao ano, com o Brasil sempre incluso no trajeto.
Por outro lado, VAV também aposta, por vezes, em sua sensualidade, tendo singles como ‘THRILLA KILLA’ e ‘Poison’ no catálogo. Seu último álbum de retorno faz uma mescla entre deep house, trap e ballad, dando ênfase á evolução dos garotos.
Sua mais nova música de trabalho ‘Poison’ expõe a sensualidade e habilidades do grupo, afastando-os da escuridão de seus primeiros singles.
APINK
As veteranas da lista, Apink (PlayM Ent.) , se juntaram ás estreias de 2011 e, construíram seu nome de maneira memorável em seu conceito fofo característico. Donas de diversos hits como ‘No no no’ e ‘Mr.chu’, as meninas sempre pareceram muito singulares e reservadas durante suas carreiras. Linearmente, o sexteto explorou os conceitos de verão e as faixas downtempo, que também enfeitam sua discografia em vídeos musicais cristalinos e agradáveis;
No campo das baladas românticas, o Apink também possui um material rentável com ‘Cause you’re my star’ e ‘Only one’, ambas de 2016, ano que marcou os primeiros realces de amadurecimento do grupo.
Na corrida para o reconhecimento dentro do mercado, que se tornou ainda mais competitivo, o sexteto portava um fandom fiel, porém estagnado, se propondo a uma reconstrução completa de seu conceito, entregando um material elegante e glamouroso em seus últimos retornos (I’m so sick/Eung Eung). Seu mais recente comeback ‘Dumhdurum’, teve uma ótima recepção doméstica e internacional, explorando o lado dramático e ousado do grupo.
Em ‘Dumhdurum’, o Apink joga com a sensualidade e charmes refrescantes de suas integrantes, lançando-se diretamente entre uma das candidatas para música do ano de 2020.
DAY6
A primeira banda da JYP Entertainment, DAY6, fez sua estreia em 2015, com o primeiro EP ‘The Day’, que possuía como música principal ‘Congratulations’, que assim como suas próximas faixas título, traziam frustrações amorosas como temas de suas letras. Os integrantes do Day6, que sempre participaram da produção de suas músicas, buscam adicionar novos elementos em suas obras e, aos poucos o quinteto foi perdendo o feitio fabricado enquanto membros da BIG3 e, ganhando uma identidade própria.
Em 2017, a banda se propôs a lançar músicas e videos musicais todos os meses, celebrando seu conceito inicial enquanto encontravam a si mesmos como artistas, explorando diversos sub-gêneros do pop-rock. Após o ‘EveryDay6’, a mudança se torna clara: a banda assume de vez o caráter experimental e transita entre vários temas e estilos dentro de seus álbuns.
Destaque para a trilogia ‘The book of us’ (2019/20), que se tornou um verdadeiro festival de consagração do Day6 como excelentes músicos, em faixas que apresentam traços de raggaeton, eletropop, metal e, até mesmo bossa nova, perfeitamente executadas. Com composições ambiciosas e vocais sublimes, o quinteto se mostra adaptável ao extremo, mostrando-se sonora e esteticamente interessante.
Com versatilidade e qualidade, Day6 fez seu comeback na última semana com a faixa ‘Zombie’, que retrata dificuldades humanas e o sentimento de letargia.
GFRIEND
Em meio á chuva de estreias dos últimos anos, o Gfriend teceu sua fama como um dos grupos menos problemáticos da indústria. As meninas chamaram atenção por suas coreografias super fortes e detalhadas, além de uma perfeita sincronização.
Aos poucos, o sexteto se afastou do conceito claro e escolar, e se aprofundou em um lado mais sóbrio e elegante em suas produções, explorando o pop orquestral em instrumentais meticulosamente produzidos. Os vocais também são característicos e, acima de tudo a dança afiada e poderosa.
As vezes transitando entre os conceitos de verão e as faixas synth-pop, o Gfriend possui grandes acertos em sua enfeitada discografia, já tendo passado também pelo girl crush em ‘Fingertip’ e ‘Fever’. A estética dos videoclipes e o clima teatral que o grupo traz, adiciona uma singularidade em seu material.
Em seu mais recente retorno ‘Crossroads’, o Gfriend utiliza um conceito mais frio e introspectivo para contar a história de suas personagens.
WINNER
Em seus primeiros anos de carreira e, depois da perda de um de seus membros, o Winner passou por um período decisivo de suas carreiras, onde caberia aos integrantes produtores decidir qual seria a cor do quarteto dali em diante. Depois do sucesso estrondoso de ‘REALLY REALLY’, o quarteto construiu uma nova identidade, afastados do estilo melancólico inicial e, apostando em singles mais entusiasmados e divertidos, que se tornaram sua marca. Faixas como ‘Ah yeah’, ‘Millions’ e ‘Hold’, ganharam rapidamente o coração dos fãs por trazer á música a personalidade cômica dos rapazes.
Por outro lado, o grupo também possui um lado comedido e, indiscutivelmente artístico, expresso geralmente entre as b-sides dos álbuns e, conseguindo seu lugar ao sol em ‘SOSO’, lançada em outubro do ano passado.
O quarteto da YG Enterteinment, se mostra destemido e habilidoso ao se encontrarem dentro da própria música, inovando sempre sua caixa de ideias sem nunca se desvincilhar da proposta original.
Em ‘SOSO’, o Winner chama atenção pela mescla de dance pop e hip-hop, além do vídeo musical arrojado, repleto de metáforas que trazem à tona as habilidades interpretativas dos membros.
Bônus: NU’EST
Entre muitos altos e baixos, o NU’EST nunca entregou menos que um trabalho de extrema qualidade, mesmo antes de sua popularidade massiva. Em 2016, foram reconhecidos pela crítica especializada pelo álbum ‘Q is’ e sua faixa título ‘Overcome’, seguida pelo lançamento de ‘Love paint’ meses depois.
Dentre um leque completo de conceitos, o quinteto possui uma discografia sólida e bastante experimental, digna do grupo com a história mais interessante da indústria na última década.
Para seu mais novo álbum ‘The Nocturne’, os rapazes atravessam o deep house já cativo, mas investe em canções pop-melódicas e emocionais proporcionando uma ótima experiência e, se aventurando no apelo internacional depois de muito tempo.
Na sofisticada ‘I’m in trouble’, o Nu’est se joga no beatpop com fortes transições e vocais despojados, trazendo um conceito mais centrado e sensual do que seu último álbum.
No k-pop, existem um grupo seleto de equipes que conseguem alcançar o nível de plena satisfação com sua música, esses devem ser valorizados pela construção de sua identidade e, sobretudo por buscar evoluir juntamente com ela.
A trajetória de autodescoberta deve ser incentivada dentro do gênero de maneira geral, através da liberdade e do encaixe, evitando frustrações por parte dos artistas e, até mesmo dos fãs. Através da expansão dessa liberdade, é possível construir uma indústria cada vez mais verdadeira e, significativa, contemplando os pensamentos dos idols em sua totalidade.