Supostamente envolvida em escândalos que incluem o suicídio de duas atrizes, nepotismo, assédio sexual, manipulação do mercado financeiro, envolvimento com menores de idade e lavagem de dinheiro, a agência de talentos sul-coreana “Gold Medalist” esconde um lado sombrio que vai além do que os olhos podem ver.
Esta matéria busca reunir e apurar todas as informações possíveis sobre a empresa de Kim Soo-hyun — associado ao caso do suicídio de Kim Sae-ron — e também sobre seu suposto irmão, Lee Sa-rang (Lee Jae-hyun), diretor do filme “Real” e figura central em diversas polêmicas, sendo apontado como um dos fatores que levaram ao suicídio da atriz Sulli.
"Real" e o caso Sulli
O filme Real, lançado em 2016, marca o início da parceria entre Kim Soo-hyun e Lee Sa-rang — uma produção envolta em polêmicas que, anos depois, seria associada ao trágico destino de Sulli. Interpretando quatro personagens diferentes, o que aparenta é que Kim Soo-hyun usou o filme como uma plataforma para impulsionar sua carreira, antes centralizada na indústria de entretenimento chinesa. Contudo, rumores recentes apontam que ele também teria usado seu prestígio e influência financeira para desenvolver relações íntimas com outras atrizes.

Com investimentos coreanos e chineses estimados em US$10 milhões, o longa foi cercado por controvérsias — de possível lavagem de dinheiro à nepotismo e abuso de poder, a principal delas ressurgiu recentemente com o irmão de Sulli trazendo à tona informações preocupantes:
“Em 2019, durante o funeral de Sulli, ouvimos informações preocupantes sobre as filmagens do filme “Real” de 2017, principalmente sobre a cena do quarto. Como esse assunto não era amplamente conhecido na época, também não pudemos verificar os fatos exatos, mas soubemos que um dublê de corpo existia e estava presente no set, apesar das alegações de que o dublê de corpo estava doente e não poderia comparecer.”
Relatos indicam que a cena em que Sulli aparece nua não estava prevista — a gravação seria realizada por uma dublê de corpo. Segundo a Gold Medalist, a dublê estava doente e não pôde comparecer ao set. No entanto, familiares de Sulli e testemunhas anônimas afirmam que a dublê estava apta a filmar, mas, por exigência de Kim Soo-hyun, Sulli foi pressionada a realizar a cena por sí.
Real fracassou nas bilheteiras e foi duramente criticado. Uma das principais estratégias para atrair atenção ao filme foi a intensa promoção envolvendo Sulli e com a negativa repercussão somada aos ataques constantes que a atriz já sofria na internet, seu quadro de depressão foi duramente agravado. Em 2019, ela se tornou mais uma vítima do sistema opressor e misógino sul coreano.
Sulli será sempre lembrada como uma mulher que lutou pelos próprios direitos e resistiu às tentativas de silenciamento. Em 2020, a chamada “Lei Sulli” — proposta para endurecer punições contra o cyberbullying — foi aprovada, mostrando que seu impacto permanece como símbolo da resistência de diversas mulheres vítimas do patriarcado coreano.
O Império de Sangue
Em apenas mais um caso que consome a Coréia do Sul, a Gold Medalist não se mostra diferente. Antes com o nome “Real Culture Industry”, a dupla Kim Soo-hyun e Lee Jae-hyun fundou a empresa para produzir o filme Real. Com diversos pseudônimos, Lee Jae-hyun é conhecido por “Irobe” e “Lee Sa-rang” (sim, o diretor de Real), onde ambos os nomes remetem à “amor”, na pronúncia coreana.
Mas por que tantos nomes diferentes? Acredita-se que a principal motivação é para se distanciar de possíveis acusações de nepotismo, visto que Lee Jae-hyun iniciou sua carreira dirigindo o filme de seu irmão, Kim, através de seu pseudônimo, Lee Sa-rang. Hoje em dia, ele utiliza desse mesmo pseudônimo para liderar a atual empresa, Gold Medalist.
Contudo, a RCI (Real Culture Industry) foi liderada por outro de seu pseudônimo, o Irobe. A Dispatch se aprofundou nesse caso e logo após o lançamento de “Real”, todo o esquema foi descoberto. Veja a imagem abaixo:

Como observado acima, o endereço da RCI era o mesmo endereço da moradia de Kim Soo-hyun, fortalecendo ainda mais as suspeitas sobre o possivel envolvimento sanguíneo. Contudo, o fiasco do filme Real resultou no fechamento da RCI, terminando assim o pseudônimo Irobe e seguindo sua carreira como Lee Sa-rang.
Vale destacar que por “divergências criativas”, o então diretor do filme, Lee Jung-sub, foi substituído por Lee Sa-rang — até então um diretor novato, fortalecendo ainda mais a suspeita de que Lee Sa-rang seja irmão de sangue de Kim Soo-hyun.
É válido ressaltar que não há provas concretas que confirmem o causo, mas as investigações apontam fortemente para o mesmo.
Kim Sae-ron
Antes agênciada pela Gold Medalist, Kim Sae-ron vinha em ascensão até causar um acidente em 2022 enquanto dirigia alcoolizada. Apesar de não haver vítimas, houveram danos ao patrimônio público e, em 2023, foi multada em 20 milhões de wones (cerca de R$ 80 mil) e incluída na lista de atrizes banidas da emissora KBS (Korean Broadcasting System).
Esse episódio marcou uma queda abrupta em sua carreira: diversos contratos foram cancelados – incluindo sua participação na série Round 6 – e a Gold Medalist a desligou de seu corpo de agenciadas. Inicialmente, a empresa se comprometeu a apoiá-la judicialmente, mas ao final do processo exigiu uma indenização de 7 bilhões de wones (cerca de R$ 28 milhões), referente à quebra de contrato de Round 6.
Desesperada com sua situação financeira, Kim Sae-ron recorreu a seu antigo relacionamento com Kim Soo-hyun, um dos fundadores da empresa.
Kim Sae-ron e Kim Soo-hyun
Todo o desenrolar do caso de Kim Sae-ron levantou suspeitas. Desde sua exclusão da KBS até a multa exorbitante, indícios apontam para um pano de fundo mais obscuro, possuindo rumores que indicam o envolvimento entre Kim Soo-hyun, até então com 28 anos, e Kim Sae-ron, que tinha apenas 17 anos na época.
A Gold Medalist negou inicialmente, mas após a divulgação de capturas de tela que confirmariam a relação, reconheceu o envolvimento — alegando, no entanto, que só começou após Sae-ron completar 18 anos.
Mesmo após apelos da atriz por mais tempo para quitar a multa, Kim Soo-hyun se manteve em silêncio. Em 16 de fevereiro — data de aniversário de Soo-hyun — Kim Sae-ron foi encontrada sem vida em sua residência.
Repercussão
Na data de hoje, os desdobramentos acerca desse caso continuam a acontecer. Diversas ações de gerenciamento de crise foram tomadas, desde a coletiva de imprensa onde Kim Soo-hyun derramou diversas lágrimas – interpretadas por muitos como lágrimas ensaiadas – até a tomada de decisões judiciais pela Gold Medalist contra “boatos difamatórios” na internet.
Infelizmente, tragédias como essa parecem ser o único gatilho para mudanças legais e sociais. Após o falecimento de Kim Sae-ron, a população coreana iniciou a petição pela “Lei de Prevenção Kim Soo-hyun”, que visa elevar a idade legal de proteção de 16 para 19 anos.
A NPOMV continuará acompanhando o caso e ficamos com o pesar no coração a cada nova notícia divulgada acerca dos mesmos, sonhamos com um amanhã onde as pessoas não terão que viver com medo de quem são, e que todos os culpados sejam julgados, mesmo que o sistema não se mostre favorável a essa ideia.