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Stans, Fãs e Fandoms: como viemos parar aqui?

Você já parou pra pensar no quão fã você é de alguma coisa? Já ficou separando listinha de fandoms, ou fazendo quiz pra descobrir o que você prefere entre A e B?
Eu já, e posso até usar a desculpa de que isso é porque eu gosto de organizar as coisas, mas honestamente, e parando para pensar, acho que não é bem isso. Há dez anos eu estaria fazendo isso? Talvez estivesse. Mas e há vinte anos? Trinta, quarenta, etc? Nem pensar. Por que a cultura de ser fã mudou tanto e por que levamos tão a sério?

Há algum tempo, nós dizíamos ser fãs de algo, mesmo só conhecendo algumas músicas, mesmo só assistindo o filme uma vez, ou só porque começamos o primeiro livro da saga há alguns dias. Até certo ponto entre os anos 90 e 2000, a depender da sua “tribo”, ser fã era gostar e ponto. Se você apreciava aquela arte, você era fã, sem precisar saber onde fulano nasceu e qual a fruta preferida dele ou o nome do bichinho de pelúcia com que ele dormia na infância. Inclusive, pasmem, antes você podia gostar de uma arte sem mesmo saber nada sobre quem havia produzido aquilo. Era só gostar do resultado, a gente não precisava gostar de quem fez também.
A reviravolta, para mim pessoalmente, foi quando eu virei emo – pois é, grande surpresa –. Foi aí que eu percebi que eu não podia mais só gostar da música. Não, Deus me livre! Como você pode insinuar gostar de “21 Guns” sem nem saber onde o Tré Cool nasceu e foi criado? De jeito nenhum você pode ser fã do Green Day. Aí começou pra mim a cultura do “poser”.

Àqueles que talvez não saibam, uma pessoa “poser” é alguém que se diz fã de algo que na verdade não é. O motivo não importa, e nem pretendo relembrar esses dias sombrios da minha adolescência, mas francamente eu gostaria de ter uma palavra com a pessoa que inventou isso. Quando foi que demos tanta importância a gostar de algo que precisamos de uma “ofensa” àqueles que não entram nos nossos critérios? De que forma fulano é mais qualificado para decidir se alguém gosta de verdade daquele filme ou não? E daí que ele é fã desde o útero da mãe? E daí que ele sabe tudo sobre?
Não há requisitos para ser fã, e se você se sente mal porque acha que não é fã o bastante, relaxa, porque se você sabe que gosta e aquilo te faz feliz, que se danem os fãs que tem a carteirinha de identidade do RBD (eu tinha uma… sem comentários).
Depois de um tempo chegou o conceito de fandom. Esse vocês conhecem com certeza (temos uma definição no nosso Dicionário Kpopper inclusive, quem quiser olhar). O fandom funciona como uma comunidade de fãs. Pessoas que tem aquele interesse em comum e interagem umas com as outras sobre aquele interesse. Mas isso é na teoria, e na prática talvez no comecinho. Os fandoms hoje em dia viraram praticamente nações. Dentro dos fandoms temos que seguir regras, etiquetas, temos que agir de um jeito que seja aceitável, ou então somos expurgados. Temos como exemplo o famoso “superwholock” (uma junção dos fandoms das séries Supernatural, Sherlock BBC e Doctor Who), que quem era do Tumblr entre 2012-2015 deve lembrar, e entender o quão massivos se tornaram os fandoms de uma hora pra outra.
(Inclusive, pesquisando fotos sobre o assunto, a primeira sugestão do google foi ‘superwholock cringe’. Bem tópico, não acham?)

Muitas vezes vemos relatos de pessoas que entraram em fandoms, que se sentiam bem, se divertiam e gostavam de estar lá, até que foi ficando cansativo, diversas situações aconteceram, inclusive conflitos com outros fãs, e essas pessoas saíram dos fandoms para preservar a própria saúde mental, às vezes até deixando de gostar daquele artista, saga, etc. por causa disso. A cultura do fandom chega a ser tão nociva que por vezes se ataca um grupo de pessoas para proteger uma celebridade – explicando melhor nesse artigo.
Quando foi também que começamos a tratar fandom e ser fã como entidades diferentes? “Sou fã de fulano, mas não sou do fandom” não é algo incomum de se ouvir. Por que hoje em dia foi feita necessária essa separação entre as duas coisas? Não soa como uma etiqueta estranha? Fora as normas que te obrigam a ser fã de apenas uma coisa, pois se você for fã de A e de B, os dois lados vão lhe criticar por não estar priorizando 100% o favorito deles e logo você é um pária para ambos os fandoms.
Fica ainda mais intenso, quando há alguns anos começamos a usar a palavra “stan”. Esse termo foi popularizado recentemente, mas faz referência a uma música de 2000 do rapper americano Eminem, e de acordo com o Urban Dictionary, o termo significa “um fã muito obcecado e super zeloso de uma celebridade/banda/elenco de um programa de TV ou filme”, e ainda assim o termo (que não chega longe do significado de saesang – também no nosso Dicionário Kpopper) foi normalizado e utilizamos para falar que somos fãs.
A normalização cada vez maior do fã que precisa fazer tudo e saber tudo é perigosa. Principalmente no kpop espera-se que você compre as músicas ou álbuns, ou que você faça streams e vote muito. E um adendo: se isso te traz felicidade, então faça isso dentro dos seus limites, não deixe de comer, dormir ou suprir necessidades básicas porque quer ser um “fã dedicado”, porque no final do dia isso tudo é somente um hobby, e precisa ser divertido, e não cansativo, não uma tarefa obrigatória. Você não está preso a isso, e também não deve cobrar que todos façam. Algumas pessoas não podem, e outras simplesmente não querem. E é preciso entender que alguém que dá de tudo não é necessariamente mais fã que aquele que escolhe impor limites.
E um parágrafo só para dizer a vocês: por favor, imponham limites. Vocês ainda são suas próprias pessoas.
É importante lembrar: se um artista te decepciona, não tem problema deixar de gostar dele, porque diferente do que muita gente acredita hoje em dia, isso não quer dizer que você nunca foi fã de verdade. Mas ao mesmo tempo não devemos idealizar os idols como seres que nunca vão nos decepcionar, já que afinal de contas eles são pessoas imperfeitas, assim como nós.
Não deixem que uma pessoa aleatória no Twitter diga a vocês que não são fãs o bastante por não se encaixarem no modelo – sinceramente desgastante – de comportamentos que foi traçado ao longo do tempo. Você sabe do que gosta, você decide seus limites e de que forma fica mais legal pra você, e você pode decidir deixar aquilo quando está te deixando mais cansado do que trazendo felicidade, ou quando seu interesse muda. Afinal isso tudo começou com alguém nos meados do século passado escutando uma música que gostava no rádio e decidindo que era fã, sem saber nada mais que o nome do artista e a melodia daquela música.

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