Se você acompanha minimamente os grupos novatos desse ano, ou qualquer reality show orquestrado pelas grande emissora coreanas, provavelmente ficou sabendo sobre as polêmicas envolvendo a emissora e produtora de conteúdo ‘MNET’, que está sendo investigada por fraudes em votações dos reality shows PRODUCE 48 e PRODUCE X 101, temporadas mais recentes da franquia.
Com olhares afiados, o público dos programas de sobrevivência levantou uma grande discussão nas últimas semanas em função do grande murmurinho provocado pelas repentinas investigações, causando certa estagnação não só nas atividades de X1 e IZ*ONE, mas em toda indústria.
A série ‘PRODUCE 101′ já havia lançado grandes nomes ao k-pop como I.O.I, Wanna One e, diversos outros agregados (JBJ, I.B.I, Rainz, etc.), não esquecendo a quantidade imensa de artistas que foi lançada e alavancada a partir dos gigantes espetáculos.
Como qualquer show de qualidade, os programas de sobrevivência são cercados de edições maldosas, rivalidades mal explicadas e, o mais importante: performances incríveis e gente talentosa em busca do sonho de se tornar um cantor idol de sucesso. Tudo isso em uma indústria que nos entrega a falsa impressão de que um indivíduo, embora profundamente genial, apenas será um artista válido caso alcançe a tão sonhada cadeira do debut.
Acho importante dizer que, independente de ser grande fã de reality shows e seus grupos pós formados, é necessário ter plena consciência de que estes shows são absolutamente estressantes e desconfortáveis para a grande maioria dos participantes, chegando a condições de insalubridade para os estagiários.
No último Produce 101 (ProduceX101, MNET, 2019), alguns estagiários vieram à público expor suas condições de trabalho. O trainee Lee Sejin (iME Korea) afirmou que, enquanto aconteciam as filmagens, os participantes não podiam levar suas próprias bebidas e, apenas bebiam o chá de cevada oferecido pela produção. Alguns meninos chegaram a esconder outras bebidas nas garrafas do líquido, pois se sentiam enjoados depois de bebê-lo muitas vezes.
Os competidores ficam sem comer por um grande período devido aos ensaios corridos, recebem um pequeno espaço de tempo para preparação das apresentações, além de terem que lidar com os críticos de plantão e, a edição maldosa das agências de TV, bem como a intensa deturpação de números. Um tremendo desrespeito para com os artistas.
Durante o reality show ‘The Unit‘ (KBS, 2017), as participantes femininas caíram diversas vezes durante os ensaios de uma performance em que usariam saltos altos. Além disso, as meninas não estavam autorizadas a ganhar peso e, jogavam fora pedaços de seus lanches, fornecidos pelo patrocínio do programa.
Não bastando as péssimas condições de saúde e trabalho dos competidores, é importante também falar da sexualização infantil extrema (principalmente em programas envolvendo meninas), rivalidade exacerbada entre trainees e fãs, além do grande abuso do público para com os artistas, que são constantemente perseguidos seja presencial ou virtualmente.
Cada show com a sua proposta.
Os programas de formação de grupo idol, antes de ganharem saturação nos últimos três anos com a grande repercussão do I.O.I (Ideal of idol, grupo derivado da primeira temporada do PRODUCE 101), sempre foram bastante comuns dentro da música popular coreana, visto que até mesmo grupos como BIGBANG, VIXX, Monsta X e Twice também receberam uma mãozinha deste formato de reality.
A YG Entertainment parece ser o tipo de agência acorrentada aos programas de sobrevivência, já que após o BigBang, Winner e iKON também tiveram seus membros selecionados em reality shows. Como se não bastasse o fiasco do MIXNINE (2017), que teve seu grupo final cancelado por baixas de audiência durante sua exibição e problemas com outras agências, em 2018 a empresa anteriormente gerenciada por Yang Hyunsuk, exibiu via YouTube e VLive a ‘YG Treasure Box‘, para recrutar seu novo boygroup TREASURE – O survival show chegou ao final em janeiro de 2019 e, até o presente momento não tem data de estréia.
Na tentativa de recuperar seu prestígio e repercussão depois da frustração com o Mixnine (2017), a YG entertainment lançou, em 2018, o reality survival ‘Treasure Box’, contando com a participação de 29 meninos. O programa deu origem a Treasure, mas desde sua finalização em janeiro de 2019, o grupo ainda não tem notícias de estréia.
Para além da obsessão de grandes empresas com survivals, existem também, casos de pouca repercussão dentro desta mesma lógica, provavelmente em função da saturação do público ou decepção do mesmo. Apesar de serem grandiosos em qualidade, shows como BOYS24, The Unit e, os mais recentes Under Nineteen e World Klass acabam ficando para trás em comparação à franquia Produce, ou ao Sixteen, que deu origem ao Twice. A falta de espectadores ou divulgação também pode prejudicar o grupo final depois de debutado, causando um fandom pequeno ou, menor que o esperado. Não só fatores internos, mas os externos podem ocasionar a falta de popularidade de um programa como esse. A falta de timing e a proximidade com outros shows são alguns desses fatores.
O reality show “World Klass”, apesar da baixa popularidade nos entregou performances incríveis e cativantes, com uma grande qualidade de produção. Seu grupo derivado ‘TOO’, debuta este ano.
Outras séries de seleção de membros interessantes são o Pentagon Maker, Seventeen Project e o Stray Kids, que originaram os boygroups de sucesso que carregam seus nomes. Estes reality shows eram mais focados em mostrar as cores e trabalho em equipe dos membros e, apesar de dolorosos, não possuem precisamente nenhuma eliminação.
Mais um espetáculo que chama atenção é o Idol School (2017), que estabeleceu a lineup final do fromis_9 e, era focado em meninas adolescentes com pouco ou nenhum treinamento, no intento de ensiná-las, como uma verdadeira escola de cantores idol. O Idol School, por envolver meninas muito jovens, acabou se envolvendo em diversas polêmicas, apontadas pelos internautas como a qualidade das performances ou até mesmo a sexualização infantil. Confira algumas polêmicas do Idol School aqui.
Reação do público e controvérsias
A peça essencial para a produção destes grandes atos performáticos muito bem distribuídos em uma dezena de episódios é o público, mas o que fazer quando os próprios fãs se manifestam contrários em rede sociais? e o que fazer quando seu produto não é saudável nem para seus fãs?
A fanbase de programas de sobrevivência, apesar de muito bem disposta e até mesmo organizada, se mostra cada vez mais esgotada e revoltosa, como vimos em episódios recentes. Além disso, é impossível evitar a quantidade colossal de haters em quaisquer grupos deste feitio.
O Produce 101, por exemplo, apesar de ter salvo grupos como Victon momentaneamente de sua deformação e, ter entregue o merecido sucesso ao Nu’est (que passava por uma grande crise até 2017), ainda deixa fãs extremamente insatisfeitas com seus resultados – A insatisfação é causada principalmente por possíveis injustiças durante a execução do show.
Pensando em redenções tão emocionantes como as de Nu’est, a KBS lançou, em 2017, seu carro chefe das competições, The Unit, que tinha como objetivo devolver o sucesso a idols que nunca atingiram o estrelato, ou que por algum motivo o perderam. Inesperadamente, a competição não recebeu tanta atenção, apesar de servir algumas das melhores performances da indústria e, ser o único programa misto de sobrevivência a ceder tempo de tela igualmente distribuído para idols masculinos e femininos, além de debutado DOIS grupos finais. Seus artistas UnB (Masculino) e Uni.t (Feminino), se dissolveram depois de lançar apenas dois álbuns.
Um grande fenômeno também propagado através da fanbase é a antipatia com grupos “temporários”, ou com contratos pequenos mas, partindo da premissa de que nenhum grupo é vitalício, acredito que não pecamos tanto neste aspecto.
Em contrapartida, é bastante comum encontrar depoimentos de pessoas dentro do fandom em estado de saúde mental esgotada ou comprometida, sob justificativa do declínio causado pelas temporadas de programas de sobrevivência. Qualquer assistidor assíduo das séries sabe que, mesmo que tão distante de nossa realidade, as eliminações, cenas e, posteriormente disbands, podem ser um tanto dolorosas.
A separação do I.O.I nos rendeu ‘Downpour’, a música de estilo ballad que serviu como despedida do grupo, emocionou muito o público geral e os fãs. Existem boatos de que o I.O.I se reunirá este ano.
Terminamos o ano de 2019 com notícias aliviadoras para os fãs de produce, mas a alegria foi quase imediatamente dissipada. Foi revelado pelo CEO da CJ ENM, que X1 se separaria, enquanto IZ*ONE retomará suas atividades normais. A empresa, juntamente com a MNET pediu desculpas pela prática de manipulação de votos e, disse ainda que, por hora, não serão produzidos outros programas desse gênero. Além de todo o escândalo pelo qual ambos grupos passaram e os prejulgamentos que sofreram daqui em diante, recentes premiações foram acusadas de boicotá-los, e as grandes charts e programa de variedade coreanos até mesmo chegaram ao ponto de excluí-los ou omitir seus resultados, causando desconforto em seus fãs.
Para onde caminhamos, acho imprescindível um olhar cauteloso sobre este tipo de competição, todo grande espetáculo esconde, nem que seja mínima sujeira debaixo dos panos e, é recomendável que nós, enquanto fãs, demonstremos apoio e empatia para com os artistas, neste difícil e cansativo início de carreira. Assim, este ano que se inicia, talvez nos dê outros caminhos de inovação e entretenimento, de uma maneira mais aproveitável e relaxada.