Texto por Adê Moura e Giulia Russo.
Marcado para começar às 20h, do dia 16 de outubro, no espaço da Audio, próximo à estação Palmeiras-Barra Funda, o show do coletivo DPR marca o início de um novo capítulo na história da onda hallyu aqui no Brasil.
Sendo o primeiro ato de k-r&b/k-hip-hop a performar no país, o evento contou com diversas interações do público com os artistas, numa noite de ingressos esgotados e casa cheia.
A expectativa dos dreamers era imensa. Desde cedo os fãs se reuniram em frente ao espaço para garantirem um lugar próximo ao palco. Em uma rápida troca de palavras com algumas pessoas, já era possível sentir o quanto este show seria importante para todos ali.
Foi o caso da criadora de conteúdo Vitória Xavier, 24. Conhecida na internet como Vic Hyung, a garota conseguiu garantir o ingresso vip, um dos mais disputados, e que dava direito ao meet & greet com os artistas.
Questionada sobre a expectativa de conhecê-los, ela não titubeia ao responder:
“Eu tô super nervosa porque eu tô esperando esse show faz muito tempo. Eu acompanho o Live desde 2016, então faz 6 anos que eu queria que ele viesse para o Brasil”.
E ela não foi a única a esperar anos pela oportunidade de ver a Dream Perfect Regime — nome de batismo da crew. As amigas Letícia de Moraes, 27, e Larissa Silva, 23, também aguardavam um evento como este há muito tempo.
“Não esperava que tivesse um show de k-hip-hop aqui no Brasil. Foi uma surpresa quando anunciaram. Eu fiquei muito feliz porque eu acho que vai abrir portas para outros artistas virem e eu tô muito ansiosa para ver os meninos”, diz Letícia.
“Eu espero que tragam mesmo porque o pessoal gosta muito. Tem bastante fã”, complementa Larissa.
Ao perguntar sobre quem mais deveria vir ao Brasil, nomes como Loco, Sik-K e Lee Hi são mencionados pela dupla, mas não sem antes trazer à tona um dos mais comentados na fila; Jay Park.
“Ele tá devendo, né? O Jay Park tá devendo de vir ao Brasil”, cobra Letícia.
E estes não são os únicos esperados por aqui. Nomes do hip-hop coreano, como: Zico, pH-1, Big Naughty, Gsoul, G-Dragon, do Bigbang, e Mino, do Winner, foram alguns dos mencionados. Assim como artistas de outros gêneros: Stray Kids, TWICE, MAMAMOO, Super Junior, Day6, EXO, NCT, Seventeen, entre outros.
Apesar de o kpop ter servido como uma porta de entrada para muitos dos que estavam na fila conhecerem o k-hip-hop, há um fator determinante que diferencia os gêneros na opinião dos fãs: a liberdade criativa.
O cenário de hip-hop coreano tende a ser mais underground. Artistas de sucesso, como o próprio DPR, são responsáveis por todo o seu trabalho. Desde a criação das letras até o conceito de seus álbuns. São detalhes assim que conquistam ainda mais o público, capaz de enxergar nas canções um lado mais sensível e vulnerável do artista.
“Eu gosto de qualquer tipo de música e acho que arte é arte”. Quem diz isso é Jeane Queiroz, 22. “Eu queria muito estar aqui desde que começaram as vendas. Felizmente consegui e tô muito empolgada mesmo. Eles são muito especiais, são artistas incríveis e que merecem o reconhecimento que eles têm. Então se vocês estão vendo essa galera aqui — diz, apontando para a fila — é porque eles merecem esse reconhecimento. São pessoas boas, que têm um talento, uma arte excepcional e eles merecem muito o nosso apoio e nosso carinho”, continua.
Em sua entrevista, a garota deixa claro os motivos que a fizeram se tornar fã do coletivo: “O que me faz gostar dos caras, é a agilidade, o flow deles, que eu acho muito fera, e essa mistura do coreano com inglês que eu acho muito legal também, mas não só com o inglês, como com outras línguas também”.
“E, como pessoa negra, que tem uma bagagem vinda do hip-hop, então eu acho que valorizar outros artistas que também podem fazer hiphop, fazer rap, fazer trap, enfim… Eu acho que essa é a diferença: eles respeitam muito essa cultura, bebem muito da cultura de cantores que eu também gosto, estadunidenses ou não”, completa.
A tarde foi caindo e o nível de ansiedade, aumentando.
Com a abertura dos portões, por volta das 18h30, o fluxo nas ruas foi diminuindo à medida que as pessoas entraram seguindo a ordem de seus respectivos ingressos.
Não demorou muito para que a casa estivesse lotada. Várias pessoas se espremiam na tentativa de conseguir um lugar com melhor visibilidade do palco. Isso durou até o início do show, quando o Cream, primeiro ato da noite, subiu ao palco com incensos acesos.
Animando o público desde a abertura, Cream serviu de termômetro para o show daquela noite. Recebido com muito carinho e apoio dos fãs, o set inteiro foi marcado pelos gritos de “Cream, eu te amo”, vindos da plateia. O ambiente foi preenchido pela performance das músicas Billboard uwu e Problems.
Na sequência foi a vez de Live entrar e fazer sua performance. Aguardada por tantas pessoas, a apresentação começou com o povo indo à loucura ao reparar na roupa dele.
Usando as cores da bandeira brasileira, Live performou uma super tracklist, composta por Legacy, Neon, S.O.S, To Whoever — ainda mais emocionante ao vivo — Thirst, Cheese & Wine, Laputa, Know me, Venus, Kiss Me, Jasmine, Jam & butterfly, Text Me, Yellow Cab, Summer Tights, hula Hoops, e fechando com a queridinha do público, Martini Blue.
Uma das partes mais carinhosas e divertidas da noite foi quando Live, atento à plateia, parou o show, apontou um fã, elogiando sua aparência e dizendo “que ele se destacava na multidão”.
Augusto Nobre, o fã sortudo de 27 anos, contou um pouquinho da sua reação:
“Esse momento eu acho que eu nunca mais vou esquecer na minha vida, pois foi surreal tudo que aconteceu. […] ver que ele a todo momento está reparando no público [é] uma coisa que eu não vejo muito em outros artistas”, disse.
Mesmo sendo fã da crew desde 2015, o momento foi inesperado.
“Já tinha reparado que geralmente quando tem homens na plateia ele só faz uma pequena interação e segue o fluxo do show, então eu só fui curtindo a vibe mesmo, de estar realizando um sonho de ver ele de perto, mas quando ele apontou para mim e me deu o microfone, pensei: ‘o que ele tá fazendo? Isso não pode ser real’. Na minha cabeça eu estava ‘pensei que no máximo iríamos ter uma foto no meet'”, compartilhou.
E este não foi o único momento especial protagonizado pelo artista. Em um determinado momento do show, Live distribuiu rosas aos fãs no maior estilo Roberto Carlos.
Após a performance de Live, a crew nos apresenta a última parte do show, com Christian Yu subindo ao palco. Ian apresentou Mito, So Beautiful, Mood, Dope Lovers, Miss Understood, Avalon, Calico, Sometimes I’m, 1 shot, Scaredy Cat, Ribbon, Mr. Insanity, Winterfall, Nerves, Ballroom Extravaganza e No Blueberries.
Durante o show, Ian falou sobre sua saúde mental, assunto que acompanha sua arte.
O artista apontou como o carinho dos fãs foi essencial naquele dia. Ele comentou que não estava se sentindo bem, e a energia brasileira o fez lembrar do porquê ele escolheu a música e ainda encorajou os fãs:
“Ladies and gentleman, se vocês amam algo… a vida é tão curta então façam aquilo que amam. E que se f*da!”, disse Ian.
Mas ele não foi o único. Enquanto estava no palco, Live comentou sobre o quão mal estava se sentindo desde o show no México e como estar em frente aos fãs brasileiros o fez se sentir melhor:
“Ontem, durante o dia inteiro, eu me perguntei o porquê de fazer isso. E hoje estou vendo o motivo”, comentou Live.
O público, que esperava um show dos artistas, devolveu ao DPR um tremendo espetáculo. Em momento algum os dreamers pararam de cantar as músicas, impressionando até mesmo o coletivo.
E é nestes momentos que a magia de ser brasileiro se revela. Não sabemos apenas assistir a um show. Precisamos viver isso. E os dreamers viveram. Mesmo após enfrentarem horas de fila, num domingo frio, o público manteve a energia e o entusiasmo do início ao fim do show. Eram pessoas, de todas as regiões do país, unidas em frente a um palco, se apresentando para seus ídolos.
Em resposta ao clima brasileiro, a crew devolveu o carinho na última música. Ao som de To Myself, toda a equipe subiu ao palco carregando bandeiras do Brasil. Foi o momento em que todos, sem exceção, aproveitaram para curtir o show dos brasileiros. Somos tão importantes para eles quanto eles são para nós. E antes de saírem do palco, uma promessa: “Nós voltaremos!”.
Após sentirem nosso amor, quando voltarem, os gritos serão ainda mais altos. “DPR WE GANG GANG.”