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Como as relações parassociais afetam o kpop: O caso Seunghan

Nos últimos dias, o kpop foi bombardeado com a breve volta de Seunghan, idol do grupo RIIZE. A situação, que envolveu polêmicas e a plena participação dos netizens coreanos, causou revolta entre o fandom internacional e escancarou o controle que os fãs coreanos exercem nas grandes empresas, na carreira e na vida pessoal dos artistas, além de expor a dinâmica das relações parassociais que são alimentadas durante anos por estas mesmas empresas.

Afastado por conta de fotos polêmicas vazadas

Ainda em 2023, durante o debut do grupo, fotos do idol com uma ex-namorada de adolescência vazaram em fóruns coreanos, causando revolta entre as fãs do grupo no país, que passaram a exigir a expulsão do idol do grupo. De acordo com a SM Entertainment, após o vazamento das fotos, a empresa decidiu pelo afastamento do artista para preservar a imagem do grupo. Com a pausa, o RIIZE passou a promover com 6 integrantes. 

Ao longo dos 10 meses em que esteve afastado, Seunghan tentou retornar a uma vida comum, ingressando em uma faculdade e sendo visto com pouca frequência. Durante seu afastamento, fãs internacionais organizaram petições e campanhas para demonstrar o quanto gostariam da volta do artista.

A volta ao grupo e o início da revolta entre os fãs

Foi na última sexta-feira (11/10) que os fãs finalmente receberam a notícia do retorno do idol ao grupo. O retorno incluiu uma carta escrita no weverse pelo integram e o que deveria ser um momento de felicidade entre as BRIIZEs se transformou em um verdadeiro show de horror protagonizado pela ala conservadora de fãs coreanas do grupo. Em uma ação coordenada, foram enviadas mais de mil coroas de flores, simbolizando luto, em frente ao prédio da SM Entertainment, como forma de protesto contra o retorno do cantor para o grupo. Dois dias depois, a Wizard Production (subdivisão responsável pelas promoções do RIIZE) anunciou nas redes do grupo que o artista decidiu por sua saída em um acordo mútuo por respeito aos fãs e ao restante de seus integrantes.

Após a notícia, a resposta dos fãs internacionais foi imediata. Através do twitter, foram subidas as tags #SMStandsForBullying #SeunghanWasBullied e #SaveRIIZEFromSM. Para simbolizar a revolta, os fãs iniciaram um movimento de boicote, deixando de seguir a empresa e o grupo nas redes sociais, além de realizarem uma petição no site change.org, pedindo a volta do ídolo para o grupo. 

Desde o momento da saída, em respeito aos fãs, empresas de distribuição internacionais fecharam acordos para a diminuição da disponibilização do estoque dos álbuns do grupo, como forma de mostrar à empresa a força e determinação das fãs do mundo todo. Mesmo com a força demonstrada pela parte mundial dos fãs do grupo, a dúvida que fica entre qualquer pessoa que está acostumada a acompanhar grupos de kpop é até que ponto uma empresa pode permitir que um fã se sinta no direito de controlar o passado dos seus artistas e por que a opinião dos fãs da Coreia do Sul tem um peso maior do que a opinião do restante do mundo.

Ainda nesta semana, algumas fãs coreanas que apoiam o idol e fãs internacionais que residem na Coreia marcaram uma manifestação em frente ao prédio da SM para protestarem contra a saída do artista.

O controle exercido pelos fãs

O caso de Seunghan demonstra o quanto os idols são desumanizados e tratados apenas como um produto por parte de seus fãs. Esta não é a primeira e nem a última vez que um artista de kpop tem a sua índole colocada em dúvida, por conta de situações que são consideradas polêmicas, sejam anúncios de namoro, como ocorreu ainda este ano com a cantora Karina do grupo aespa junto ao ator Lee Jae Wook, no qual a artista precisou pedir desculpas por estar com alguém. Ou mesmo, situações passadas como a saída de Sungmin do grupo Super Junior por conta do seu casamento, ou a tentativa das fãs coreanas do grupo EXO de causarem a expulsão do integrante Chen por ter escolhido iniciar uma família. 

Por que os fãs acreditam que os ídolos, principalmente dentro do kpop, são intocáveis e devem suprir uma expectativa além daquilo que se espera de um artista? Diariamente vemos no kpop, o quanto os fãs tratam os artistas como um fruto de sua imaginação. Desde contratos que proíbem o namoro de idols no começo da carreira, a sasaengs que perseguem os idols e colocam suas vidas em risco para controlá-los, até o fato de encararem um namoro entre idols, um escândalo.

A relação é alimentada dentro da indústria durante anos, seja com a construção de uma imagem perfeita, que oprime os erros e que garante aos fãs uma quebra de sua realidade, ou até com eventos que causam aproximação entre os artistas e seus fãs, que deveriam ser apenas uma forma de conhecer aquele que é idolatrado, mas, por muitas vezes, destrói um limite claro de até quanto uma pessoa pode interferir na vida de um artista.

Podemos também observar o quanto isso afeta os idols e a sua relação com o mundo, quantos exemplos de pessoas jovens tirando suas próprias vidas teremos de ver até que os artistas comecem a ser tratados como pessoas normais que tem um talento e merecem respeito? Por muitas vezes, o mundo do kpop é cruel, seja com os anos de treinamento, a esperança do sonhado debut, e o tratamento dado por parte das empresas. Neste caso, os fãs deveriam ser um ponto de escape para os artistas, que veem neles uma forma de fugir das dificuldades fazendo aquilo que gostam e para pessoas que gostam daquilo que eles fazem. Mas quando os fãs, viram uma arma para a manutenção do sofrimento, a quem os artistas irão recorrer?

Artistas são pessoas com pensamentos, que vivem suas vidas e que têm todo direito de escolher como irão viver, sem a interferência de terceiros. A arte não pode ser maior do que a vontade própria e nem pode influenciar a imagem de alguém.

 

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