EnglishPortugueseSpanish
EnglishPortugueseSpanish
direitos-capa

A Indústria do K-pop e as Relações Trabalhistas: Exploração e Resistência dos Idols

Responsável por injetar mais de 4 bilhões de dólares por ano na economia coreana e pelo crescimento do turismo no país, o k-pop se tornou um fenômeno que é acompanhado pelo mundo todo. Porém, com os holofotes voltados para a Coreia, situações contratuais, problemas entre empresas e abusos foram expostos aos olhos de todos. Nos últimos anos, os fãs puderam acompanhar diversos casos em que os idols mostraram resistência contra os problemas enfrentados, por isso, trouxemos os principais acontecimentos que abalaram a indústria musical coreana.

Jaejoong, JYJ e a Blacklist do K-pop

Em 2009, após 5 anos de estreia, o grupo TVXQ, que é um dos principais precursores da popularização do kpop no restante da Ásia, esteve no meio de um dos maiores escândalos da década. Os membros Jaejoong, Yoochun e Junsu decidiram entrar em um processo contra a SM Entertainment para alterarem seus contratos exclusivos. O trio alegou irregularidades no contrato e tratamento desleal. Três anos após o início do processo, o trio finalmente pode finalizar seus contratos com a empresa, e anunciou sua reestreia com o nome JYJ. 

Durante o processo do debut do trio, a SM expediu um mandado em corte proibindo as vendas do álbum na Coreia do Sul, além de enviar cartas às principais emissoras do país pedindo que os artistas não participassem ou divulgassem suas músicas. A partir disso, o grupo entrou em uma “blacklist” dentro do kpop, sendo impedidos de participarem de music shows e programas de variedade.

OMEGA X e o assédio como manutenção de poder

Em 2022, o grupo OMEGA X anunciou em coletiva de imprensa junto aos seus advogados que entrariam em processo contra a SPIRE Entertainment para conseguir a anulação de seus contratos exclusivos. A coletiva ocorreu após alguns fãs presenciarem situações de assédio verbal e agressão contra os membros do grupo, durante viagens realizadas naquele ano. Na maioria dos momentos vistos pelos fãs, a CEO da empresa agia com agressividade contra os integrantes do grupo, exercendo assim seu poder e controle por estar em uma posição de liderança.

Além disso, o grupo também trouxe à imprensa situações de assédio sexual por parte da CEO, sendo também obrigados a participarem de sessões de bebidas junto aos staffs.

O grupo venceu o processo contra a empresa em novembro de 2023, e puderam voltar a se promover em uma nova empresa como OMEGA X.

LOONA x BBC

No dia 25 de novembro de 2022, os orbits (fandom do Loona) receberam a notícia da expulsão da integrante Chuu do grupo. A empresa alegou que o motivo da expulsão era por conta do uso de linguagem violenta e o uso indevido do poder por parte da idol contra os staffs da empresa. Antes da expulsão, existiam boatos na imprensa coreana de que a artista pretendia encerrar seu contrato exclusivo antes do tempo por conta de irregularidades e falta de flexibilidade por parte da empresa. Após a expulsão, a artista entrou em processo contra a empresa. Durante o processo, foram reveladas as condições do contrato firmado entre a artista e a agência. Do total de seus rendimentos enquanto integrante do grupo, a cantora tinha direito a apenas 30%, enquanto a BBC tinha direito a 70% de todo o lucro de vendas de álbuns e atividades em grupo. Suas atividades solo, como aparição em programas, foram divididas em 50/50. Foi informado pela imprensa coreana que a empresa enfrentava problemas financeiros desde 2021, devendo milhões de wons para funcionários e equipes contratadas, como maquiadores, estilistas e produtores.

Com a saída da integrante, o comeback, que estava previsto para o início de 2023, foi adiado indeterminadamente. A partir dessa situação, o restante do grupo entrou com processos contra a BBC pedindo o encerramento do contrato, alegando também a falta de flexibilidade e apoio por parte da empresa.

Ainda no início de 2023, as integrantes Heejin, Kim Lip, Jinsoul, e Choerry venceram uma liminar contra a empresa e tiveram seus contratos exclusivos suspensos. Como forma de impedir promoções, a BBC entrou com um pedido junto à CEMA DMEC (Associação de Gerenciamento de Entretenimento da Coreia) para banir as atividades de Chuu e que pretendia fazer o mesmo com as integrantes que já tinham vencido suas liminares. Dois dias após esta notícia, as integrantes Hyunjin e Vivi entram com uma liminar para suspender seus contratos.

O grupo venceu todas as liminares contra a BBC, e assinaram novos contratos com outras empresas para continuarem com suas carreiras como idols.

O sucesso do FIFTY FIFTY e os problemas com a ATTRAKT

Em novembro de 2022, o grupo FIFTY FIFTY estreou com 4 integrantes (Saena, Aran, Keena e Sio). O grupo teve uma estreia tímida, mas foi em 24 de fevereiro de 2023, com o lançamento do single The Beginning: Cupid, que o grupo viu a sua situação mudar. A versão em inglês da música viralizou no TikTok e garantiu ao grupo uma entrada na Billboard Hot 100, sendo o grupo de kpop mais rápido a entrar no chart.

Durante as promoções da música, a integrante Aran precisou passar por cirurgia e foi recomendado o repouso total. Com isso, o FIFTY FIFTY entrou em um hiato. As primeiras notícias sobre o grupo vieram em junho, quando a ATTRAKT veio a público explicar o motivo de o grupo não estar promovendo em meio ao sucesso. A empresa destacou também em nota que “forças externas” estariam se aproximando das integrantes, depois revelou que a Warner Music Korea estaria tentando contratar as artistas.

No dia 28 de junho, foi informado que as 4 integrantes entraram com uma liminar contra a empresa para finalizar seus contratos exclusivos, alegando quebra de confiança e transparência entre as negociações da empresa. O grupo e a empresa tentaram chegar a um acordo em julho, mas a negociação não obteve sucesso. 

No mês de agosto, o pedido de encerramento do contrato foi negado pelo Tribunal Distrital Central de Seul. Em outubro, a integrante Keena cancelou o pedido de encerramento, continuando seu trabalho junto à ATTRAKT. No mesmo mês, os contratos das integrantes Saena, Aran e Sio foram encerrados pela empresa e, em dezembro, a ATTRAKT anunciou que tomaria medidas judiciais contra as integrantes que continuaram no processo, e que o Fifty Fifty seria relançado com mais 4 integrantes além de Keena. Saena, Aran e Sio assinaram um novo contrato junto à MASSIVE E&C e pretendem estrear agora sob o nome ablume.

O bullying no ambiente de trabalho: NewJeans x Hybe

Nos últimos meses, a Hybe entrou em processo contra a CEO da Ador (subsidiária da empresa), Min Heejin. A empresa alega que a CEO estaria em um processo fraudulento junto com outras gigantes do entretenimento para assumir o poder dentro da Hybe, já a parte da CEO alega que a Hybe criou situações pois gostariam de ter o total controle da Ador. Atualmente, a subsidiária conta com uma nova presidente após a destituição de Min Heejin, que se demitiu da empresa. No meio de toda essa situação, as integrantes do NewJeans vieram a público para demonstrar sua insatisfação com o que estava acontecendo. 

Em uma transmissão ao vivo, as integrantes abordaram pontos como bullying realizado por parte de outros trabalhadores da Hybe, além da preocupação com o futuro do grupo e o tratamento dado pela nova CEO. Hanni, integrante do grupo, foi convidada a depor na auditoria estadual do Comitê de Meio Ambiente e Trabalho da Assembleia Nacional Sul-Coreana. A artista levantou pontos sobre situações de bullying que o grupo enfrenta desde antes de sua estreia, como serem ignoradas por pessoas do alto escalão da empresa, incluindo Bang Sihyuk (diretor-executivo da Hybe e fundador da BigHit). A artista também demonstrou insatisfação em relação ao tratamento dado pela nova CEO da agência Ador, Kim JooYoung, deixando claro que esta vem fazendo menos do que pode ser feito pelo grupo.

Os fãs do grupo, através de um escritório de advocacia, enviaram uma denúncia formal contra a Hybe para a investigação da polícia de Seul. O governo da Coreia do Sul finalizou a denúncia com o entendimento de que idols não são classificados como trabalhadores no país, por conta de seus contratos, e por isso não têm o direito ao acesso às leis trabalhistas vigentes.

Mesmo com os problemas, os idols resistem

As novas gerações do k-pop mostram a sua inovação, não só no ambiente musical, mas deixando também claro suas frustrações, indignações e trazendo a público os seus problemas. Toda a luta das gerações passadas para serem ouvidas é um resumo daquilo que pode ser feito e que deve ser feito na indústria musical coreana. Nos próximos anos, será possível observar a melhoria no tratamento, pois os novos idols não deixarão quieto.

Referências

Compartilhe esse post

Veja mais